sábado, 13 de dezembro de 2008

Natal III


Quando eu era pequena a minha avó costumava contar-me muitas histórias.

No Natal, as histórias multiplicavam-se.

Aquelas que envolviam crianças e pessoas sem ninguém, foram as que mais me marcaram.

Eram histórias tristes e muito bonitas, cheias de cor e frio.

Acabavam bem, como qualquer historia que se preze. Menos uma!!!!

E, todos os Natais, com poucas excepções, eu lembro-me dessa história: “A menina dos fósforos”.

A menina dos fósforos

"Estava tanto frio! A neve não parava de cair e a noite aproximava-se. Aquela era a última noite de Dezembro, véspera do dia de Ano Novo. Perdida no frio, uma menina seguia pela rua, com a cabeça descoberta e os pés descalços.

A menina levava no avental uma quantidade de fósforos, e estendia um maço deles dizendo:

— Quem quer fósforos bons e baratos? — Mas ninguém comprara os fósforos.

Sentia fome e frio, e estava com a cara pálida e as faces encovadas. Os flocos de neve caíam-lhe sobre os cabelos compridos e loiros. Através das janelas, as luzes vivas e o cheiro da carne assada chegavam à rua, porque era véspera de Ano Novo.

Sentou-se no chão e encolheu-se num canto. Sentia cada vez mais frio mas não tinha coragem de voltar para casa. Então lembrou-se de acender um fósforo para se aquecer.

Pegou num fósforo e acendeu! Mas, que luz era aquela? A menina julgou que estava sentada em frente de um fogão de sala cheio de ferros rendilhados, com um guarda-fogo reluzente. A menina estendia já os pés para se aquecer, quando a chama se apagou e o fogão desapareceu. E viu que estava sentada sobre a neve, com a ponta do fósforo queimado na mão.

Acendeu outro fósforo e o lugar em que a luz batia na parede tornou-se transparente. A rapariguinha viu assim o interior de uma sala de jantar onde a mesa estava coberta por uma toalha branca, e mesmo no meio havia um ganso assado, com recheio de ameixas e puré de batata, espalhando um cheiro apetitoso. Mas, o fósforo apagou-se, e a pobre menina só viu na sua frente a parede negra e fria.

E acendeu um terceiro fósforo. Imediatamente se encontrou ajoelhada debaixo de uma enorme árvore de Natal. Milhares de velinhas ardiam nos ramos verdes. A menina levantou ambas as mãos para a árvore, mas o fósforo apagou-se, e todas as velas de Natal começaram a subir, e ela percebeu então que eram apenas as estrelas a brilhar no céu.

Uma estrela maior do que as outras desceu em direcção à terra, deixando atrás de si um comprido rasto de luz. «Foi alguém que morreu», pensou para consigo a menina; porque a sua boa avó, que já não era viva, dizia-lhe muita vezes: «Quando vires uma estrela cadente, é uma alma que vai a caminho do céu.»

Acendeu mais outro fósforo e uma grande luz apareceu, e no meio dessa luz estava a sua avó, de pé, com uma expressão muito suave, cheia de felicidade!
— Avó! — gritou a menina — leva-me contigo! Quando este fósforo se apagar, eu sei que já não estarás aqui. Vais desaparecer como o fogão de sala, como o ganso assado, e como a árvore de Natal, tão linda.

Riscou imediatamente todos os fósforos porque queria muito que a avó continuasse junto dela. Foi então que a Avó a tomou nos braços e, soltando os pés da terra, voaram as duas tão alto que já não podiam sentir frio, nem fome, nem desgostos, porque tinham chegado ao reino de Deus."

(Hans Christian Andersen)

2 comentários:

ana v. disse...

Passo para deixar um beijo, Sum.
E encontro esta história que sempre me tocou fundo, porque é história infantil mais triste que conheço. Dá que pensar, infelizmente há muitas meninas dos fósforos por aí e o Natal é um bom momento para nos lembrarmos delas.
Beijinho

sum disse...

Foi exactamente o que me aconteceu. Todos nós sabemos que neste nosso mundo não existem sininhos, nem outras fadas madrinhas que façam com que todas as historia das nossas vidas acabem bem. Quantas famílias há por ai, cujas histórias não acabam bem!! Dá mesmo que pensar. Há muita gente para reconfortar neste mundo.
Um Santo Natal Ana e obrigada por ter passado.
Beijinhos grandes.