quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Tempo


As vezes tenho saudades do antigamente, quando todos tínhamos tempo. Tempo para sair, tempo para conversar, tempo para namorar, tempo para estar, só por estar.

TEMPO

É estranho, porque não me lembro de se falar tanto em falta de tempo, como hoje.
Quando falo com a Amália, a resistente empregada da minha avó que já conta com 80 primaveras, a ideia que passa é que há tempo para tudo e antigamente então o tempo era mais duracell.


Ela é cozinheira, e boa, daquelas que ainda escolhe o feijão, descasca as favas, põe as massas das tartes a descansar, faz pastéis de massa tenra, rissóis de camarão e pastéis de arroz com os restos do dia anterior, tudo tem de estar a fervilhar durante horas. E ainda tem tempo para se encostar ao fogão a mexer a panela, e a falar connosco do que fazíamos quando éramos pequenos e dos castigos que tínhamos quando éramos mal criados. Conta-nos histórias dos tios todos e ainda dos tios avós, para os quais já cozinhava.

- Dantes é que havia trabalho. As casas eram grandes e cheias de crianças. Faziam-se piqueniques, festas, lanches para os pequenos, chás e bolos para as tias, as mesas estavam sempre postas para quantos coubessem. As copas estavam sempre cheias de bolachas e bolos – Uhmm!, dentro daquelas caixas de latão apetitosas – Nas cozinhas os fogões estavam sempre acesos com tachos ao lume e ainda assim não ouvia ninguém queixar-se de que não havia tempo. Outros tempos…

Tempo
Batem relógios no raiar dos dias,

Por cada batida novas fantasias.
Loucas palavras, luzes cor de mel,
Ventos que trazem nuvens de papel.

Diz-me o que hei-de eu fazer,
Sinto no tempo o meu tempo a morrer.
Quanto mais longe mais perto de ti.

Vozes ao longe chamam por min,
Cantigas, magia, passos de arlequim.
Estrelas cadentes na palma da mao,
Milagres, duendes, rasgos de paixao.

Ouço os segredos do fundo do mar,
Barcos perdidos, sereias a cantar.
Trago o teu nome escrito no peito,
Volta para mim, faz teu o meu leito.

Diz-me o que hei-de eu fazer,
Sinto no tempo o meu tempo a morrer.
Quanto mais longe mais perto de ti.

Pedro Abrunhosa/Tempo

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